Por Mario Abbade | O Globo
Com cinco meses de atraso por causa da pandemia e da retirada de Johnny Depp do projeto, "Animais fantásticos — Os segredos de Dumbledore" chega ao circuito com uma expectativa peculiar por causa da péssima recepção de "Os crimes de Grindelwald" (2018), longa anterior da nova franquia criada por J.K. Rowling, a mesma dos filmes com o bruxinho Harry Potter. O segundo longa tinha tantos problemas no roteiro que Steve Kloves, corroteirista de todos os filmes da franquia Harry Potter, foi convidado a se juntar ao desenvolvimento do script. Houve uma melhora, mas com resultado aquém do primeiro longa.
Desta vez a trama se concentra na relação de amor entre o professor Alvo Dumbledore (Jude Law) e o poderoso bruxo das trevas Gellert Grindelwald (Mads Mikkelsen). Apesar de apaixonado, Dumbledore precisa reunir uma equipe de bruxos para impedir que Grindelwald assuma o controle do mundo da bruxaria e declare guerra aos trouxas, humanos naturalmente incapazes de fazer magia.
O problema do roteiro da dupla Rowling e Kloves é ter de preencher os furos deixados pelo segundo filme. São sequências e mais sequências explicando as incoerências e motivações do longa anterior. Por causa desse viés elucidativo, a narrativa perde ritmo e se alonga em sua duração. Só depois de dois atos sofríveis finalmente a trama esquenta e tem um terceiro bem interessante, justamente quando a personagem de Maria Fernanda Cândido participa da trama. Se o espectador assistir aos primeiros 15 minutos e só retornar na meia hora final, não perde praticamente nada.
O britânico David Yates, que dirigiu ainda os dois filmes anteriores e quatro da franquia Harry Potter, também tem sua parcela de culpa. Ele poderia ter feito uma decupagem (processo de dividir as cenas de um roteiro em planos) mais dinâmica. Em vez disso, sucumbiu ao roteiro sem retirar as gorduras que resultam numa barriga na narrativa. Tecnicamente, segue sendo um cineasta com limitações.
Outro elemento complicado é o ótimo personagem Newt Scamander (Eddie Redmayne) que, depois de um belo arco no primeiro longa, se tornou um coadjuvante de luxo. É como se, na saga de Harry Potter, o bruxinho fosse protagonista somente no primeiro filme e depois se tornasse um adereço nos sete que vieram depois. Após fazer escada para Grindelwald no segundo longa, agora sua participação é ainda menor neste terceiro capítulo.
A produção foi habilidosa, em tempo recorde, na substituição de Johnny Depp, que já havia filmado uma cena, ao colocar o dinamarquês Mads Mikkelsen em seu lugar. E, se o Grindelwald de Depp era mais ameaçador e inconsequente, o de Mikkelsen é soturno e misterioso sem deixar transparecer do que é capaz. Ambos os atores, porém, fizeram igualmente um bom trabalho na construção do personagem.
Para finalizar a trama de "Animais fantásticos", estão programados mais dois filmes, que a princípio também contam com roteiro de J.K. Rowling e direção de David Yates. A dupla ainda tem tempo de recuperar as boas ideias de "Animais fantásticos e onde habitam" (2016), mas para isso seria bom que deixassem Rowling e Yates se concentrar na produção e não no que acontece nas redes sociais. Ou quem perde é o cinema e, consequentemente, o público
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