Por Cássio Starling Carlos | Folha de S.Paulo
Existe uma fórmula para criar uma franquia no cinema? Junte um universo de fantasia, inclua uma assinatura cultuada e entupa de efeitos mirabolantes.
Como toda receita, para dar certo é preciso alguma alquimia –um toque de personalidade ou originalidade.
Os zilhões de fãs de Harry Potter certamente recompensarão os custos exorbitantes de "Animais Fantásticos e Onde Habitam", expectativa que se mede pelas quatro continuações em pré-produção.
Afinal, combina a adaptação de um livro de feitiçaria, complemento das aventuras do bruxinho; o nome de J. K. Rowling como autora e roteirista; e a aparição de bichos, fofos ou ameaçadores, em ritmo de montanha-russa.
No lugar da Inglaterra de ar gótico, a história se passa numa Nova York recriada digitalmente como uma Gotham City dos avós do Batman.
O cenário importa menos do que o combate entre as forças do bem e do mal — ou entre bruxos que só querem fazer seu trabalho e os trouxas obcecados em exterminá-los.
A chegada de Newt Scamander (Eddie Redmayne interpretando ele mesmo), que traz na mala um zoo sobrenatural, dispara situações absurdas e põe em risco a sobrevivência discreta dos diferentes.
O primeiro problema do filme é apresentar os personagens o suficiente para criar empatia definindo quem pertence a qual lado. Enquanto as naturezas de Newt e Porpentina têm certa nitidez, as faces de Percival e de Credence, essenciais à trama, perdem-se na obscuridade.
O segundo consiste na falta de unidade orgânica entre efeitos e progressão da trama. A cada aparição fantástica, a história trava para que uma espécie faça seu número.
O maior problema, contudo, é a inevitável comparação com a série "Harry Potter". A ausência de um imaginário infantil e da dimensão competitiva da adolescência dificulta o alcance do mesmo patamar de identificação.
Talvez isso se resolva nas continuações, mas a primeira impressão é a de um contraste excessivo entre a evolução dos efeitos visuais e a regressão da fábula.
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