Crítica de "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2" #4

Crítica de 'Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2' #4 | Ordem da Fênix Brasileira
CRÍTICA DE HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE - PARTE 2
Por Justin Chang | Variety
Via ScarPotter


Levou 10 anos e aproximadamente 20 horas de tempo de tela para a saga eminente de fantasia de J.K. Rowling alcançar sua conclusão cinemática. Ainda que o encantamento final tenha sido falado e que a cortina desça sobre a franquia de maior bilheteria da história do cinema, mais do que alguns espectadores devem estar se perguntando: Porque a pressa? Com o menor lançamento da série com 131 minutos, “Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2” surge a frente com uma tremenda urgência, excelente espetáculo e poderoso, até mesmo com uma emoção esmagadora, só falha com uma despedida apressada que parece afivelada sob o peso das expectativas da audiência. Lágrimas serão derramadas enquanto os fãs dão adeus a Hogwarts, mas a sensação depois de uma grande emoção permanece fora de alcance.


Uma memorável cena no banco bruxo Gringotes, com jóias sem preço se multiplicando infinitamente em um abrigo subterrâneo, representa uma metáfora adequada para o “toque de Midas” [na mitologia, Midas transforma tudo o que toca em ouro] que Harry Potter tem demonstrado na bilheteria (6 bilhões de dólares recolhidos mundialmente e contando), e vai continuar a mostrar em auxiliares nos próximos anos. O novo filme deve somente se beneficiar de sua posição como grande franquia, quando até mesmo fãs casuais vão se sentar em fila como testemunhas da passagem desse marco da cultura-pop. Com o fator de sobrecarga em ingressos de 3D e mais-do-que-normais biz [de repetições], e a estréia de 15 de julho pode muito bem superar os 974 milhões de dólares arrecadados por “Harry Potter e a Pedra Filosofal” de 2001, o primeiro título da série e ainda sim mais lucrativo.

Grandes antecipações entristeceram a “Parte 2” com pressões que nenhum filme teria que carregar, e deveria ser vista e avaliada corretamente como a segunda metade de um único longo filme (o filme completo e duplo está sendo exibido em cinemas selecionados). Ainda assim, como o diretor David Yates e o roteirista Steve Kloves construíram seu final de duas partes para valer a pena completamente aqui, é muito justo esperar que esse oitavo capítulo se erga sobre si mesmo, o que faz até certo ponto. De fato, com seu ritmo acelerado, fluxo incessante de incidentes e fim de jogo de guerra-bruxa, a “Parte 2” vai atingir muitos expectadores como uma imagem muito mais excitante e envolvente do que a mais lenta, e mais atmosférica “Parte 1”.

Aqui, a dinâmica de caráter expositivo e de recuperar o tempo perdido é deixada de lado em favor de uma ação decisiva, quando Harry (Daniel Radcliffe), Rony (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson) caçam e destroem as mágicas Horcruxes que mantêm Lorde Voldemort (Ralph Fiennes) preso a esse mundo. Todos os caminhos seguem de volta a Hogwarts, não mais uma escola caprichosa, mas uma sinistra fortaleza para os Comensais da Morte e Dementadores.

Enquanto preparações são feitas para um confronto épico entre bem e mal, Yates alcança uma emocionante sensação de convergência de inumeráveis linhas dramáticas, temáticas, românticas, emocionais e musicais dos últimos sete filmes sendo envolvidas juntas até o fim: Velhos e novos amigos são bem encontrados, vinganças são distribuídas, e veteranos pouco-vistos tem um momento garantido sob os holofotes. Neville Longbottom (Matthew Lewis) emerge como um dos verdadeiros heróis de Hogwarts, e pela primeira vez em décadas, os Professores McGonagall (Maggie Smith), Flitwick (Warwick Davis) e Slughorn (Jim Broadbent) são permitidos a fazer proezas substanciais com magia.

Melhor de todos, o trapaceiro Severo Snape (Alan Rickman) revela suas verdadeiras cores no final, em uma montagem reveladora e comovente que chama mais emoção dessa figura extremamente arrogante em cinco minutos do que ele mostrou em sete filmes. E o filme faz completa justiça à passagem mais profundamente tocante nos romances de Rowling, quando Harry vai lidar com a inevitabilidade da morte, suportar consolos de amizade e valentia, e o mistério do que se encontra no mundo além.

Do início ao fim, Yates e Kloves tomam as mais extraordinárias e astutas liberdades com o consagrado texto de Rowling, principalmente durante o longo e devastador cerco em Hogwarts - uma estendida passagem que sempre fica melhor no filme que no livro. Yates e sua equipe de design e bruxos dos efeitos visuais tiram estratégica vantagem dos terrenos do castelo (desenhado com maestria por Stuart Craig) para dar uma visão e sequências fantasticamente inventivas. Diferente do livro, Voldemort se sente fraco em cada vez que uma Horcrux é destruída, permitindo o digitalmente desfigurado Fiennes introduzir, muito maravilhosamente, uma sombra de vulnerabilidade em sua impecável representação do mal.

Mas tudo que é bom tem um fim, e aqui isso se aplica não só para a série como um todo, mas também à muito real e sombria magia que a "Parte 2" consegue tecer em seus primeiros 90 minutos. De todas as formas de dramatizar o encarar final inevitável, os produtores e diretor escolheram uma que, embora mais cinemática que a versão do livro, parece ser indevidamente apressada, viola algumas regras fundamentais do universo de Rowling, e dá à cobra de estimação do Lorde das Trevas um papel excessivamente notável. Mais pertinente, o clímax dá uma sensação emocionalmente silenciada e livre, e sua fraca realização seria perdoada somente se a serie inteira não tivesse sido construída para esse momento.

Enquanto a economia de Yates é admirável, esse é um filme que tem todo direito de ter seu tempo e permitir a seus expectadores a cortesia de uma despedida mais cerimoniosa e demorada. Fãs de longa-data da franquia de fantasia devem se encontrar em ânsia pelos vários finais de “Senhor do Anéis” de Peter Jackson, que teve a sabedoria de dar ao público demais ao invés de não suficiente. A significância do Relíquias da Morte titular também recebe uma resposta sem maiores explicações, quando o emaranhado da história de fundo do Professor Dumbledore (Michael Gambon) e seu irmão (um formidável Ciaran Hinds) é mostrada, mas deixada desapontavelmente inexplorada.

Ficar criticando o que foi deixado de fora tem sido, é claro, sempre parte da diversão e da frustração de abordar essa franquia viciante. Colocado na inviável posição de ter que agradar a todos, o produtor David Heyman e a Warner Bros. têm que ser parabenizados por terem pego as essências do filme exatamente da forma correta, fazendo um oitavo filme um ciclo de integridade e continuidade inesquecíveis. Permitindo infusões de novos talentos dos diretores como Alfonso Cuaron e Mike Newell, enquanto honrando a fidelidade do trabalho de Rowling e selecionando para o elenco três talentosos mas não-testados jovens atores junto com os maiores nomes entre os atores britânicos, os produtores criaram algo inapagável enquanto mantiveram risco e reverência em balanço judicioso.

Em comparação com os anteriores, "Parte 2" mostra um padrão de linha de trabalho impecável. Os efeitos visuais são tão habilmente e artisticamente manipulados que a magia parece quase banal, e a trilha sonora de Alexandre Desplat incorpora uma gratificante explosão dos temas familiares de John Williams, mais pungente que as composições tristes de Nicholas Hooper no sexto filme. O trabalho da ninhada de Eduardo Serra ganha pouco, mas fica mais profundo e estereoscópico. Este é o primeiro filme de Potter a ser lançado totalmente em 3D, assim como em 2D, e com isso, pode-se ser grato por ser o último filme.