Mais uma crítica brasileira de "Harry Potter e o Enigma do Príncipe"

Mais uma crítica brasileira de 'Harry Potter e o Enigma do Príncipe'O site da revista Veja foi atualizado recentemente com uma nova crítica sobre o sexto filme da série "Harry Potter, "Harry Potter e o Enigma do Príncipe".

Leia um pedaço:

O surpreendente no efeito obtido por Yates é a simplicidade dos meios que ele utilizou: primeiro, uma paleta de cores fechada, que privilegia o chumbo e torna os tons vivos, quando aparecem, dramáticos e cheios de prenúncios; uma faxina nos sets, para fazer da escola de bruxos Hogwarts um ambiente medieval e austero; depois, enquadramentos muito profundos, que, por colocarem boa distância entre o primeiro e o último planos, sugerem que há coisas que não se podem discernir nem desvendar; e, por fim, a ênfase no rosto dos atores.

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Crítica "Harry Potter e o Enigma do Príncipe"
11 de Julho de 2009
Isabela Boscov

Veja

Depois de sete livros e cinco filmes, é desculpável que se tenha a sensação de que tudo o que se poderia dizer sobre Harry Potter já foi dito. E mais de uma vez. Eis então que algo inesperado acontece: com apenas alguns ajustes, Harry Potter e o Enigma do Príncipe (Harry Potter and the Half-Blood Prince, Inglaterra/Estados Unidos, 2009), que estreia no país nesta quarta-feira, consegue fazer com que algo tão familiar soe novo, diferente e mais instigante do que em qualquer das aventuras anteriores – em filme ou em livro. O sexto episódio da série é aquele em que Alvo Dumbledore (Michael Gambon), diretor da escola de Hogwarts, obrigará Harry (Daniel Radcliffe) a mergulhar nas várias memórias sobre o vilão Voldemort que, no decorrer de anos, ele colecionou em frascos cristalinos. As lembranças, porém, não são nada menos que turvas: elas mostram como Voldemort, mesmo quando ainda se chamava Tom Riddle e era um garoto órfão e desprezado, já emitia sinais inequívocos de ameaça – que o próprio Dumbledore subestimou. E revelam também que, já poderoso, Voldemort encontrou uma maneira indescritivelmente depravada de se preservar da morte. O empuxo da história, portanto, é lúgubre e incômodo. E são essas as características que David Yates, em uma evolução inqualificável desde o episódio anterior, que também dirigiu, trata de acentuar, até que elas contagiem também os momentos ligeiros do enredo – momentos de calmaria nos quais a desordem nunca demora a se intrometer.

O surpreendente no efeito obtido por Yates é a simplicidade dos meios que ele utilizou: primeiro, uma paleta de cores fechada, que privilegia o chumbo e torna os tons vivos, quando aparecem, dramáticos e cheios de prenúncios; uma faxina nos sets, para fazer da escola de bruxos Hogwarts um ambiente medieval e austero; depois, enquadramentos muito profundos, que, por colocarem boa distância entre o primeiro e o último planos, sugerem que há coisas que não se podem discernir nem desvendar; e, por fim, a ênfase no rosto dos atores. Em especial dos bons atores, como o irlandês Gambon, um intérprete magnífico, que enche Dumbledore de gravidade, e o inglês Jim Broadbent. O papel de Broadbent, o do professor Horácio Slughorn, é um desses que imploram para que um erro seja cometido: Slughorn é fútil, deslumbrado e tem um fraco por alunos que desfrutem algum tipo de celebridade – como Harry. No livro de J.K. Rowling, ele é retratado da forma fácil, como uma figura ridícula. Ator e diretor, porém, avançam ao fazer dele um homem trágico – são as almas simples e vulneráveis como Slughorn que o mal vampiriza e das quais se alimenta para persistir.

David Yates já está filmando o último episódio de Harry Potter (que, por ser muito longo, será dividido em duas partes). Se prosseguir nesse aperfeiçoamento, poderá encerrar a série em uma chave de fato memorável – o que O Enigma do Príncipe já passa bem perto de ser. Nem tudo é perfeito, claro. Em um filme tão dominado por Gambon e Broadbent, os limites dramáticos de Daniel Radcliffe ficam, se possível, ainda mais evidentes. Mas isso, sim, já é notícia antiga.


Obrigado, ScarPotter!